e agora eu estou aqui. feito um pedaço de existência, perdida, sem conseguir escapar de mim para chegar até você. mas eu vou te ligar, eu vou te falar que o que eu posso te oferecer é só amor, nem mais, nem menos, apenas amor, o amor perfeito, platônico, tácito, contemplativo, leal, honesto, um rio que se mede em volume d’água, que se derrama pelos poros e pelas mucosas, só o amor e nada mais do que isso e que eu espero que você aceite esse amor, porque ele não está fazendo mal a ninguém além de mim mesma. mas o medo não deixa. o medo é anterior a tudo isso, a qualquer pensamento, a qualquer idéia de fuga ou de enfrentamento. o medo existe antes de você existir e ele não vai deixar que eu me aproxime, que eu atenda o telefone. então a gente segue bebendo demais, porque dá coragem. quem sabe um dia ele liga e eu atendo? bêbada, claro.
[katia melo]